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6 de junho de 2012






Era só mais uma noite normal como todas as outras. Céu limpo, lua minguante e uma casa no meio do campo que mais parecia um vulcão em erupção. Acabava ali uma história de dois anos e meio. O amor já havia acabado há muito tempo, eles não suportavam mais conversar, nem se olhar. A relação que tinham era extremamente física;quando os olhos se fechavam e as bocas se encostavam. O físico respondia mais do que o sentimental, aliás o sentimental já estava morto. Mas eles não se deram conta. O desejo falava mais alto. Gritava, enquanto a dor se calava.
Ele se perguntava onde estava o amor que um dia eles sentiram um pelo outro. E ela se perguntava quando aquela agonia iria acabar. Bem… Acabou. Como dizem: o café esfriou. Ela recolheu suas coisas e colocou-as em uma mala. Saiu de casa. Atravessou o campo até chegar à estrada mais próxima e seguir não só com a viagem, mas com a sua vida.
Ela precisava seguir em frente. Precisava viver de novo uma vida que ela havia deixado para trás. Abriu sua bolsa de ombro e pegou o primeiro cigarro. Soprava a fumaça para fora da janela, como se a mesma limpasse o passado que a 10 minutos tinha decidido deixar pra trás.
Olhou para o retrovisor e sentiu uma forte dor apertar seu peito. Seus olhos ficaram fixos, seu coração quase parou e suas mãos congelaram. Aquela foto... Aquela foto que ficava a tanto tempo pregada naquele retrovisor que mais parecia um acessório do próprio carro. Seria impossível tirá-la.
E aquele sorriso? Aquele sorriso que ela havia abandonado há exatamente 15 minutos atrás... Era tão lindo que até parecia sincero. Aquele sorriso a lembrou de tudo que a fumaça do cigarro havia levado. Lembrou-a de quando eles se conheceram e de como ela se apaixonou de primeira por aquela voz grossa. De quando ela queria ligar para ele, mas não sabia o que falar. De quando seu mundo parecia cair, mas aqueles braços fortes pareciam ser a única coisa que o segurava.
Ela freou e chorou. Se não era feliz antes, não seria feliz agora. Sem ele por perto. Seu aquele contato físico que os faziam esquecer-se de todos os problemas… Deu marcha ré e voltou. Correu a 150 km/h. Entrou no campo e soltou do carro mal estacionado.
Seu amor não estava mais lá. Ela revirou o quarto, a cozinha, o banheiro… Revirou a casa inteira e não o encontrou. Correu até os fundos casa, pensou em encontrá-lo lá. E o encontrou. Misturado as cores do céu e da neblina que tomava o campo. O encontrou de braços abertos, seus pés tocavam a ponta do precipício e idealizavam um movimento simples e rápido: um pulo.
Um simples pulo que ela fez de tudo para tentar impedir. Gritou por dentro primeiro, mas sua voz chegou ao ambiente externo tarde de mais. Ele havia se jogado. Desapareceu naquele branco-azul-escuro para sempre. Nem um ultimo beijo, nem um adeus… Nem um eu te amo, só um pulo!
No começo da noite o céu estava sem estrelas. No final da noite brotou uma estrela do céu.





— Por favor, só mais uma dose, prometo ir embora logo depois desta. 
— Você não está mais em condições para isso, vá para casa. Estás aqui desde cedo bebendo.
— Mais uma dose e irei para casa.

“Estás vendo o que fazes comigo? Fui expulsa do bar por sua culpa. Pois queria incessantemente completar o teu vazio com álcool. Mas quanto mais bebia, mais teu vazio aumentava. Mais falta tu fazias e mais lembranças tuas me vinham à mente.

Tua ausência acabou sendo que nem álcool, me deixou ébria e me matou por dentro; tirou de mim as minhas palavras e deixou-me sem chão. A diferença é que o efeito da tua ausência não passa com água fria. Ele continua aqui. Continua nos meus dias e nos meus pensamentos… Tua ausência continua no meu peito, cavando um buraco cada vez maior e tornando-se cada vez mais profunda. 

Hesito em ir atrás de ti, pois sei que a minha falta não te deixou nem um pouco mal. Sei que minha ausência não te tirou as tuas noites de sono ou muito menos fez suas lágrimas rolarem quando não deviam rolar. Por isso te deixei ir. Deixei-te traçar seu próprio caminho e percorre-lo sem mim… Deixei-te em uma estrada e não olhei para trás, segui um caminho contrário ao teu para nunca mais te encontrar.

Eu sei… Eu não te disse adeus. Mas não foi porque eu esqueci e sim porque ele não conseguiu ser mais forte que eu. Eu o prendi em meu peito e o impedi de sair e dramatizar mais o momento. O impedi de impulsionar as minhas lágrimas a saírem junto com ele.

21h 23m. Eu desisti de você. Desisti de nós dois, mesmo sabendo que esse plural nunca existiu. E por mais que todos me encorajem dizendo que tudo sempre dar certo no final, eu sei que na realidade não é assim. Sei que, talvez, o “certo” seja eu ficar longe de ti e tu longes de mim.

A vida não é um filme de romance, querido. Na vida nós perdemos e somos obrigados a conviver com essa perda. Eu perdi você. Perdi-te pros ares. Perdi-te pra vida e agora sou abrigada a conviver sem ti.

Desculpe-me, mas termino esta carta dizendo que desta vez será diferente. Por mais que minhas lágrimas me façam bem, eu não irei derrama-las. Não desta vez. Não irei mais recordar tuas falas e tuas ações; não irei mais fazer o teu café predileto e muito menos toma-lo; não irei mais respirar teu cheiro 24 horas por dia. Não irei mais escrever a ti. Cansei de gastar minhas palavras contigo, irei envia-las para quem realmente merece lê-las.

Com desamor, Amélie W.”




De todas as pessoas que já imaginei perder você foi a única que se encontrava fora desta lista. Surpreendi-me comigo mesma após ver que minha imaginação estava errada. Nada disso que vivemos foi imaginário. Tudo foi real, tão real que acabou. E acabou rápido. Juro que tento por na minha cabeça que não dá mais para voltar atrás; que já passou e que já vivemos o que tinha que se viver. Mas isso não entra mais na minha mente.

Como nós chegamos aqui? Como tudo acabou do nada? Cadê o nosso amor? E os nossos planos? Tudo foi por água a baixo. Tudo se perdeu no tempo de maneira tão instantânea que pude realmente sentir meu coração descolar-se do meu peito. Por que tudo tem um fim? Pergunto-me às vezes daquele casal que ficou vinte anos juntos e depois pediram divórcio. Como eles vão viver agora tão separados? E aqueles vinte anos juntos, onde foram parar? Por que se distanciaram tanto?

Não existe “felizes para sempre” na vida real. O café esfria querido… O amor acaba e o que sobra são lembranças. Apenas tua imagem sorrindo e nossas loucas conversas no MSN, que tu talvez nem lembre, mas que continuam tão fortes em mim como se estivessem sendo vividas todos os dias. Como se o roteiro nunca mudasse. Como se estivéssemos conversando sempre as mesmas coisas. E quer saber? Eu não canso.

Não canso de abrir as nossas conversas e relê-las, dez, vinte ou trinta vezes. Eu não canso de fazer isso todos os dias ou de chorar todos os dias pelo mesmo motivo. Eu me cansaria se tivesse que esquecer você. Cansaria-me se eu tivesse que apagar todas as suas lembranças… Eu prefiro guarda-las em mim, até sabe-las de có, até meu pulmão respirar suas lembranças, e minhas narinas expira-las como expiram o ar. Sem dor.

E eu, como estava dizendo, sempre quis ser dessas mulheres imperfuráveis, inatingíveis, inaudíveis e incompreensíveis. Mas nunca consegui. Quando vou ver, já contei minha vida pra primeira pessoa que me deu um pouco de atenção. Já tô rindo alto no restaurante porque não me controlei e fiquei feliz demais. (…) E quando vou ver, lá se foi a mulher misteriosa que eu gostaria tanto de ser. Porque eu jamais poderia ser uma.


Mas é que a gente precisa ser forte, pequena. A gente precisa se jogar num abismo sem medo da queda, e se doer, engolir as lágrimas. A gente precisa erguer o braço e mostrar o tamanho do músculo, precisa fazer os outros acharem que a gente é de ferro, mesmo de seja de seda, mesmo que seja frágil como uma folha de papel.